O advogado Jefferson Moura Costa responde pelo homicídio do cabo do Exército Arione de Moura Lima, assassinado há 11 anos em Picos. Suspeito encontra-se preso pelo estupro de faxineira em Teresina.
A juíza Nilcimar Rodrigues, da 5ª Vara da Comarca, decretou a prisão preventiva do Jefferson Moura Costa pelo homicídio do cabo do Exército Arione de Moura Lima, ocorrido no dia 25 de abril de 2010, no município dePicos. A decisão saiu na tarde desta terça-feira (3) após pedido do Ministério Público.
O advogado se encontra atualmente preso na Penitenciária Irmão Guido, suspeito pelo estupro de uma faxineira na cidade de Teresina. O G1 não conseguiu contato com a defesa do suspeito.
Há 11 anos a família de Arione Lima espera pelo julgamento do advogado. Arione de Moura Lima tinha apenas 22 anos quando foi assassinado no dia 25 de abril de 2010, por volta das 19h45min, com um tiro no tórax. O advogado Jefferson Moura foi denunciado à Justiça pelo crime, chegou a ficar preso por alguns dias, mas logo foi solto e desde então nunca foi julgado.
Com a recente prisão do advogado pelo crime de estupro, além das denúncias de importunação sexual de mais quatro mulheres, a família de Arione Lima esperava conseguir maior celeridade no processo.
O Ministério Público do Piauí ingressou na Justiça com um pedido de prisão preventiva do advogado em relação ao assassinato do cabo do exército. A juíza afirmou na decisão que são fortes os indícios contra Jefferson Moura.
“Os indícios de autoria são fortes e recaem em desfavor do acusado, tanto pelo que foi relatado nos depoimentos prestados pelas testemunhas ouvidas em sede de inquérito policial e em Juízo, quanto pelo interrogatório do acusado”, destacou a juíza.
A juíza Nilcimar Rodrigues ainda destacou que contra o acusado já existe outro mandado de prisão preventiva, dessa vez pelo crime de estupro na cidade de Teresina. Ela disse que a prisão é necessária para a garantia da ordem pública.
“A reiteração delituosa do acusado demonstra sua predisposição para a prática de crimes de diferentes naturezas, em especial aqueles considerados de gravidade mais acentuada, ditos como hediondos, cuja reprovabilidade legal e social exige das autoridades atuação especial e efetiva, com vistas a afastar, mesmo que de maneira cautelar, a reiteração desses crimes ou de outros por aquele que teve sua liberdade restituída no curso do processo, como é o caso do ora representado, mas demonstrou que esta condição põe em risco bens e direitos sensíveis ao meio social”, pontuou.
Família aguarda justiça
Arione de Moura Lima tinha apenas 22 anos quando foi assassinado no dia 25 de abril de 2010, por volta das 19h45min, com um tiro no tórax. Há 11 anos a família espera pelo julgamento. Com a recente prisão do advogado pelo crime de estupro, além das denúncias de importunação sexual de mais quatro mulheres, a família de Arione Lima espera que o acusado pelo homicídio vá a julgamento.
Um familiar de Arione Lima, que preferiu não se identificar, explicou ao G1 como o crime ocorreu. Ele informou que o advogado era amigo da família, chegava a frequentar na casa da vítima, pois era próximo do pai de Arione. Uma briga entre o pai da vítima e o advogado teria motivado o crime.
“O pai do Arione e o Jefferson eram muito próximos, até que tiveram uma discussão em um bar e alguns dias depois aconteceu o crime. O Arione chegou em casa, estacionou a moto e foi conversar com uns amigos que estavam na rua, próximo à casa dos pais. O Jefferson estava passando de carro no local, estacionou o veículo e chamou o Arione, que foi até ele. As testemunhas disseram que o Arione chegou a colocar o braço no capô do carro. Aí ele [Jefferson] sacou a arma e deu um tiro”, afirmou.
A vítima chegou a correr para tentar entrar em casa, mas não conseguiu e caiu em um terreno baldio localizado ao lado da residência. Logo após o crime, o suspeito fugiu e somente se entregou alguns dias depois, quando já tinha passado o flagrante.
“Ele alegou legítima defesa, mas havia testemunhas nas ruas, e em nenhum momento o Arione tinha tido algum tipo de rixa com ele”, afirmou o familiar.
A família acredita que o advogado Jefferson Moura planejava atingir a irmã da vítima. “Foi uma discussão que ele teve com o pai da vítima e acabou usado esse motivo para ferir a família. Antes do crime ele chegou a ligar para a irmã de Arione, para saber onde ela estava. Acredito que a ideia inicial era tirar a vida da irmã. Ele já estava vigiando a família e quando o Arione chegou em casa, se aproveitou para fazer isso”, contou.
Com medo do advogado, logo após o crime a família foi embora de Picos.
“No bairro em que a família morava em Picos, todas as pessoas temem ele, principalmente pelos crimes que ele cometeu e pelos que ele responde. Essa insegurança levou a família a sair da cidade. A gente sentiu pressão de tomar uma decisão que garantisse a segurança da família. Não poderíamos expor alguém, de sair e esbarrar com ele”, declarou o familiar do cabo.
Sentimento de impunidade
Segundo a família do cabo do Exército Arione Lima, já faz tempo que o processo não tem qualquer movimentação. Os familiares da vítima deixaram de acompanhar o caso, certos de que nada vai acontecer com o advogado.
“O processo está parado há 11 anos. Sequer foi a júri popular. O pai dele não acompanhava mais o processo, nem acionou mais o Ministério Público, pois ficou completamente descrente, porque parecia que a gente estava nadando contra a maré. Tudo que a gente fez para provar que foi um crime torpe e fútil, movido por vingança, foi em vão. Nada foi feito”, declarou.
O familiar disse não entender como a Justiça permitiu que o advogado tivesse ficado tanto tempo livre para poder cometer outros crimes.
“Se buscar pela ficha criminal dele, vai perceber todos os outros crimes que ele se envolveu, como um acidente automobilístico na Bahia, onde ele estava errado, acabou matando duas pessoas. Ele estava errado e ficou por isso mesmo. Alguns anos atrás ele chegou a responder pelo crime de assédio em um restaurante em Teresina e ficou por isso também, porque não tinham provas suficientes”, contou.
Ainda é grande a dor da família diante da perda e da falta de justiça em relação ao crime que vitimou o jovem de 22 anos.
“São essas questões que fizeram a família a deixar a cidade, os amigos, a vida que tinha lá, por conta de uma justiça que não se fez acontecer. Sabemos que existem sim falhas no judiciário em outras regiões, mas no Piauí temos essa mágoa, essa dor de que o processo nunca foi adiante e a justiça optou por esquecer. Perdemos um jovem de apenas 22 anos, que teve a vida interrompida, por um motivo fútil”, afirmou.
A família cobra do judiciário um posicionamento. “O que a gente espera é que a justiça seja feita. São 11 anos e não houve mais celeridade no processo. O Jefferson continua sem pagar pelo crime que cometeu. Vai trazer o Arione de volta? Não. Ele se foi, há 11 anos, com apenas 22 anos e não vai mais voltar. Essa é a questão”, pontuou.
Nova esperança
Os familiares da vítima esperam que com a nova prisão, Jefferson Moura permaneça preso e que seja julgado pelo homicídio do cabo do Exército.
“Quando a minha família recebeu a notícia, confesso que foi uma surpresa, mas teve um sentimento de esperança. Conforme o caso ganhou repercussão na mídia e novas vítimas procuraram a justiça, aquilo nos deu esperança de quem sabe, dessa vez, com novos fatos, ele pudesse pagar pelo que fez”, disse o familiar.
Agora a família volta a pressionar o Judiciário para que julgamento seja realizado. “Todos esses anos ele acabou causando dor na vida de muitas famílias. Todos esses anos ele sempre fez algo de errado e sempre saiu ileso, sempre saiu impune. Não dá para continuar assim”, pontuou.
Ele defendeu que o advogado permaneça preso, pois os crimes que responde afetaram as vidas de várias pessoas.
“O crime de estupro não é algo isolado e as novas vítimas não procuraram a justiça, era por medo, insegurança, por saber que ele tinha cometido outros crimes e ficado impune. Por ele ter influência, por ter instrução, por ser advogado, então o que esperamos hoje é que o processo de homicídio possa ganhar força e ter celeridade. Ele não pode ficar impune, ficar livre ou se quer respondendo em liberdade”, comentou.
O advogado Jefferson Moura da Costa foi indiciado pelo estupro e cárcere privado da faxineira de 29 anos, que pulou da sacada de um apartamento para fugir do agressor. Ele encontra-se preso na Penitenciária Irmão Guido, em Teresina, mas a defesa do advogado entrou com o pedido para que o suspeito seja transferido de presídio ou tenha prisão domiciliar.