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Negra e ex-quebradeira de coco: quem é a 1ª mulher que vai governar o Piauí
Política
Publicado em 31/03/2022

A posse ocorre às 9h30 de hoje na Assembleia Legislativa, seguida de cerimônia de transmissão do cargo, às 10h30, no Palácio de Karnak.

 

Uma ex-quebradeira de coco que virou professora de francês vai tomar posse hoje no cargo máximo do Piauí. Aos 71 anos, Maria Regina Sousa (PT) será a primeira mulher a assumir o governo no estado. Ela fica com a vaga de Wellington Dias (PT), que renuncia para disputar vaga ao Senado em outubro.

Sousa, que é uma mulher negra, será apenas a segunda mulher a governar um estado (atualmente, só o Rio Grande do Norte tem governadora, Fátima Bezerra-PT). Além dela, o Ceará também será governado por uma mulher, com a renúncia de Camilo Santana (PT): Izolda Cela, do PDT, que tem posse marcada para sábado.

História do coco de babaçu

Eleita vice-governadora do Piauí ao lado de Dias em 2018, Sousa assume o Executivo após uma história de vida que chama a atenção pelos saltos.

Nascida em União (a 65 km de Teresina), já na divisa com o Maranhão, ela ajudava os pais aos 10 anos de idade no roçado. Foi quebradeira de coco babaçu e viveu na cidade até ir cursar o ensino médio em Parnaíba (PI).

Formada professora, no início da década de 1970, passou a dar aulas na escola Eunice Weaner, da rede estadual, que era chamada “Preventório”, já que só tinha como alunos filhos de pessoas com hanseníase.

Em 1976, Regina se formou em letras, com habilitação em língua portuguesa e língua francesa, pela UFPI (Universidade Federal do Piauí). Com a formação, chegou a ser professora de francês na mesma UFPI.

A trajetória política dela se confunde que a história sindical. Ela é uma das fundadoras da CUT (Central Única dos Trabalhadores) no Piauí —entidade da qual foi presidente estadual. Ela entrou na vida sindical ainda em 1978 e também foi uma das fundadoras do PT no estado (partido que venceu seis mandatos no Piauí).

Entre 2003 e 2010, foi secretaria de Administração do governo de Wellington Dias. Já em 2010, foi eleita primeira suplente do senador Dias e acabou herdando a vaga, quando ele deixou o cargo para disputar o governo, em 2014.

Enquanto senadora, Regina sempre teve como foco os direitos humanos e o meio ambiente. A coluna tentou, durante a semana, conversar com ela, mas não houve agenda possível. Recebeu apenas o áudio de uma entrevista dela dada à sua assessoria de imprensa.

“Não estou pensando em grandes obras, nessa questão de visibilidade. Quero cuidar das pessoas invisíveis, algo que considero a grande obra da minha vida”, diz.

Ela afirma que, após deixar o governo, no primeiro dia de 2023, vai fazer trabalho social e não pretende exercer cargo público. Para ele, ser a primeira mulher a governar o estado será mais do que uma honra.

A gente tem uma luta por empoderamento. Cada mulher que ocupa um espaço se torna um exemplo para outras mulheres, para as meninas que vão vendo que podem chegar. Temos 27 estados, e só em um uma mulher foi eleita governadora. Precisamos de mais.

Preterida?

Para Vítor Sandes, cientista político e professor da UFPI (Universidade Federal do Piauí), Regina Sousa tem sido uma peça-chave dentro dos governos petistas do estado, “sobretudo por ser uma mulher historicamente vinculada ao partido”.

“Nesse sentido, a governadora a ser empossada deve dar continuidade ao governo Wellington Dias, imprimindo, dentro dos limites políticos, seu traço pessoal”, diz.

Ele conta ainda que ela é um quadro historicamente ligado ao PT do Piauí. “Ela ocupou cargos sistematicamente nos primeiros governos do Wellington Dias, nos anos 2000, com uma trajetória forte desde então”, completa

Sandes diz que nunca foi explicado o porquê de ela não ser a escolhida pelo PT para ser a candidata à sucessão de Wellington Dias (o candidato será o atual secretário da Fazenda, Rafael Fonteles), mas ele formula duas hipóteses para isso.

“A primeira é o aspecto da viabilidade eleitoral: não era um nome colocado como possível candidata dentro do debate público. A segunda é que Rafael é um jovem e empresário conhecido na cidade, também é filho de uma liderança histórica do PT estadual”, explica.

Acredito que o primeiro elemento, somado ao potencial de um pré-candidato com as características de Rafael, possibilitaram a indicação do seu nome e não de outros.

Por Vítor Sandes, cientista político/ Uol

 

 

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