Baixo crescimento e queda da inflação. Esse era o cenário traçado no final do ano passado para o Brasil pela maioria dos economistas –e também por parte do governo– para 2022. São essas também as perspectivas neste momento em relação a 2023. O prognóstico para o ritmo de atividade no ano corrente se mostrou equivocado, e alguns fatores podem mudar também a história do início do próximo mandato presidencial.
O ano de 2022 foi o segundo seguido em que os economistas foram surpreendidos com uma atividade econômica e uma inflação no Brasil mais fortes do que as projeções de um ano antes. Se forem consideradas as previsões feitas no início da pandemia, é possível dizer que o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) e dos preços desde o início da crise sanitária tem surpreendido para cima.
Considerando um prazo mais longo, o desvio das previsões é menor. Projetou-se um crescimento médio de 2% ao ano após a recessão de 2014-2016. O resultado de 2017 a 2022 ficará próximo de 1,5%. Ou seja, menor que o estimado.
O impacto do fim de algumas restrições impostas pela pandemia no setor de serviços e no mercado de trabalho, um miniboom de preços de commodities e medidas de estímulo ao consumo explicam a maior parte das surpresas em 2022.
A maioria dos economistas considera baixa a probabilidade de que esse cenário se repita em 2023, principalmente diante da desaceleração da economia global e das restrições fiscais no Brasil.
Mauricio Oreng, superintendente de pesquisa macroeconômica do Santander, afirma que a projeção do banco de crescimento de 0,8% no próximo ano considera, de um lado, o impulso dado pelo setor de serviços que chegou ao mercado de trabalho e dá sustentação ao consumo. De outro, o aperto da política monetária e a piora das condições financeiras. A expectativa é que essas duas últimas questões tenham mais peso sobre a atividade.
"A gente tende a achar que nessa queda de braço prevalece o aperto da política monetária e das condições financeiras", afirma. "Se a gente tiver uma resiliência maior do mercado de trabalho, isso pode fazer com que esses impactos demorem mais para acontecer."
José Pena, economista-chefe da Porto Asset Management, destaca dois fatores que explicam a maior parte da surpresa do crescimento em 2022: alta dos preços das commodities e aumento das transferências do setor público, fatores que não terão a mesma magnitude neste ano. "A combinação de desaceleração global, menor impulso com transferências de renda e efeito ainda não totalmente sentido da política monetária é o que contrata essa desaceleração para 2023."
Sobe e desce das projeções em 2022 Em 2021, a economia cresceu 5%, ante uma estimativa inicial de 3,4%. Em 2022, deve crescer cerca de 3%, bem acima dos 0,4% esperados um ano antes.
Em março deste ano, o próprio Ministério da Economia começou a rever para baixo suas projeções para o PIB. Em junho, as expectativas mudaram. Ficava claro que o controle sobre a pandemia, alta de preços de commodities, medidas de estímulo e o processo inflacionário estavam dando gás à economia.
A inflação ficará próxima de 6% em 2022, segundo a estimativa mais recente do BC e do mercado. Uma espécie de "meio do caminho" entre as projeções feitas em dezembro passado e aquelas divulgadas em junho deste ano pelo mercado e pelo governo.
A economia mundial neste ano rumou no sentido contrário. No final de 2021, analistas do setor privado e de instituições multilaterais, como o FMI (Fundo Monetário Internacional), viam um avanço significativo do PIB global e ainda não esperavam que a inflação em países desenvolvidos alcançasse os maiores valores em 40 anos.
Com a Guerra da Ucrânia e seu impacto sobre preços de commodities como o petróleo, a batalha contra a alta de preços se tornou mais difícil. Os bancos centrais elevaram suas taxas de juros e reduziram estímulos, freando o crescimento nas grandes economias. Problemas econômicos e sanitários na China também contribuíram para uma atividade mais fraca.
Desemprego menor A principal surpresa positiva neste ano veio do setor de serviços, pelo lado da oferta, e do consumo das famílias, pelo lado da demanda. Ambos representam cerca de 70% do PIB. Com peso menor, mas também com desempenho bem acima do esperado, ficaram a indústria e os investimentos.
Impulsionado pelos serviços, o mercado de trabalho surpreendeu positivamente. Esperava-se uma taxa de desemprego próxima de 12% ao final deste ano. Agora, a estimativa é que fique pouco acima de 8%, uma das taxas mais baixas da história recente.
A agropecuária, com a quebra parcial da safra de soja e a queda na produção de cana-de-açúcar, foi a grande decepção do ano. Esse é também o único setor para o qual há a expectativa de aceleração da atividade em 2023.
Ao divulgar recentemente sua projeção de crescimento de 1% para o próximo ano, o Banco Central afirmou que a incerteza sobre o ritmo de atividade atualmente "é maior do que o usual".
A avaliação da instituição e de grande parte dos analistas do setor privado é que há duas questões em jogo. A primeira são os desafios para a atividade econômica global, com alta de juros em diversos países, impactos da guerra da Ucrânia e incertezas sobre o crescimento na China. A segunda, a política fiscal no novo mandato do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
As projeções para o PIB de 2023 variam atualmente de -0,4% a +2,3%, segundo o Boletim Focus do BC. A mediana de 0,79% representa o pior resultado pós-2020 e praticamente metade da média em toda a gestão Jair Bolsonaro (+1,5%). No terceiro trimestre deste ano, o crescimento já foi menor, e dados preliminares mostram nova desaceleração neste fim de ano.
O cenário de inflação, por outro lado, continua incerto. BC e mercado esperam que o indicador fique bem próximo do limite da meta de 4,75% de 2023.
Fonte: Folhapress (Eduardo Cucolo)