Estudantes em pânico após um ex-aluno entrar armado no Colégio Estadual Professora Helena Kolody e balear dois estudantes; uma das vítimas não sobreviveu. Foto: Reprodução/Twitter/@Andre17121979
Crime foi no Colégio Estadual Professora Helena Kolody, perto de Londrina. Aluno ferido tem quadro grave e respira por aparelhos. Governador, ministro e presidente lamentaram o caso
Uma estudante de 17 anos foi morta a tiros na manhã desta segunda-feira, 19, em ataque a uma escola em Cambé, no Paraná. Segundo o governo estadual, um ex-aluno entrou armado no Colégio Estadual Professora Helena Kolody, alegando que solicitaria seu histórico escolar. O município fica a cerca de 15 quilômetros de Londrina.
Outro aluno, de 16 anos, foi baleado e está internado. Segundo o Hospital Universitário de Londrina, o adolescente socorrido está em estado gravíssimo e os médicos tentam estabilizar o quadro de saúde do jovem. Ele respira com ajuda de aparelhos e está na sala de emergência do Pronto Socorro. “Devido seu quadro de extrema instabilidade, está contra indicado o transporte ao bloco cirúrgico da instituição, por risco de alteração dos parâmetros vitais”, afirma o boletim médico.
A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros se dirigiram ao local para atender a ocorrência. Os secretários de Segurança Pública e da Educação também se deslocaram para a cidade. O ex-aluno, de 21 anos, foi detido após ser imobilizado por um professor e encaminhado para Londrina. A polícia investiga a motivação do crime.
Foram apreendidos, junto com o agressor, uma machadinha, carregadores de revólver e a arma utilizada no crime. A Secretaria de Segurança Pública do Paraná informou que, além desses itens, foi encontrado um caderno com anotações sobre ataques em escolas. Além disso, foi revelado que o agressor é esquizofrênico e estava em tratamento para essa condição, de acordo com informações fornecidas por sua família. No começo da noite, um outro homem, também de 21 anos, foi preso por suspeita de ajudar a organizar o ataque.
A vítima foi identificada como Karoline Verri Alves. Nascida em 2005, ela cursava o 3º ano do ensino médio. Era colega de sala do jovem baleado. Karoline foi coroinha e participava do grupo de jovens da Paróquia Santo Antônio de Cambé. Seus pais são coordenadores da igreja.
Ao Estadão, o secretário de Educação do Paraná, Roni Miranda, disse que as informações preliminares apontam que o autor não tinha relação com as vítimas. “É um ex-aluno, que estudou por lá em 2014″, disse. Segundo ele, o agressor abandonou os estudos, sem concluir o ensino médio, no ano passado.
Segundo Ratinho Junior, o professor que imobilizou o autor do atentado passou por treinamento sobre como atuar em situações parecidas como essa. “O professor que imobilizou esse ex-aluno passou por um treinamento recentemente, e as forças policiais chegaram em apenas três minutos ao colégio depois do acionamento, o que evitou uma tragédia ainda maior”, disse ele, que decretou luto oficial de três dias no Estado.
Em abril, Ratinho Jr. anunciou o reforço de 5,6 mil policiais para fazerem rondas nas regiões de escolas estaduais para conter ataques nas instituições de educação.
Por meio das redes sociais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também condenou o ataque a tiros no Colégio Estadual Helena Kolody, em Cambé, no Paraná, realizado na manhã desta segunda-feira.
“Mais uma jovem vida tirada pelo ódio e a violência que não podemos mais tolerar dentro das nossas escolas e na sociedade”, afirmou ele.
O Colégio Estadual Professora Helena Kolody tem cerca de 40 turmas e 634 alunos, segundo a Secretaria da Educação do Paraná. A escola atende turmas de ensino fundamental e médio.
Em evento no Rio de Janeiro, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, também se manifestou. “De modo inaceitável, essa modalidade de violência se implantou no Brasil e serve de reflexão quanto aos traços culturais da violência”, disse. “As estatísticas de ataques a escolas nos EUA mostram que esse não é um exemplo para o nosso País.”
Após os ataques registrados em março e abril, em São Paulo e Blumenau (SC), o governo federal lançou um pacote de medidas contra esse tipo de atentado. Entre as ações, foram criadas medidas para aumentar a responsabilidade das plataformas digitais sobre o que circula nas redes sociais.
Veja outros ataques a escolas que ocorreram neste ano
Casos semelhantes ocorridos em São Paulo e em Santa Catarina também chocaram o País neste ano. Em 27 de março, um adolescente de 13 anos esfaqueou quatro professoras e um aluno dentro da Escola Estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia, na zona oeste da capital paulista. Por volta das 10h30 daquele dia, foi confirmada a morte da professora identificada como Elisabeth Tenreiro, de 71 anos. O agressor era do 8º ano do ensino fundamental e foi apreendido.
No dia 5 de abril, um ataque na creche Cantinho Bom Pastor na Rua dos Caçadores, em Blumenau, no Vale do Itajaí, em Santa Catarina, deixou quatro crianças mortas. As vítimas foram três meninos e uma menina, de 4 a 7 anos. O agressor, de 25 anos, levava uma machadinha e, após fugir do local do crime, se apresentou ao 10° Batalhão de Polícia Militar, onde foi preso e encaminhado à Polícia Civil.
Um relatório apresentado durante os trabalhos de transição do governo federal em dezembro de 2022 indicava que 35 estudantes e professores tinham sido mortos em ataques no Brasil desde o início dos anos 2000. Antes disso, não há relatos de casos de violência em escolas no País.
Segundo o documento, os ataques praticados por alunos e ex-alunos “são normalmente associados ao bullying e situações prolongadas de exposição a processos violentos, incluindo negligências familiares, autoritarismo parental e conteúdo disseminado em redes sociais e aplicativos de trocas de mensagem.” / COLABOROU ISABELA BURIOLA
NOTA DA REDAÇÃO: O Estadão decidiu não publicar detalhes sobre o autor do ataque. Essa decisão segue recomendações de estudiosos em comunicação e violência. Pesquisas mostram que essa exposição pode levar a um efeito de contágio, de valorização e de estímulo do ato de violência em indivíduos e comunidades de ódio, o que resulta em novos casos. A visibilidade dos agressores é considerada como um “troféu” dentro dessas redes.