RAPHAEL RIBEIRO/BCB
O Copom (Comitê de Política Monetária), do BC (Banco Central), decidiu nesta quarta-feira (2) cortar em 0,5 ponto percentual a taxa básica de juros da economia brasileira, que passou para R$ 13,25% ao ano. É o primeiro corte após três anos da taxa Selic, que estava estacionada em 13,75% desde agosto do ano passado.
Após essa primeira baixa, os analistas preveem ciclo de queda com novos recuos nos meses de setembro (0,5 ponto), novembro (0,5) e dezembro (0,5), movimento que, se confirmado, levará a Selic a 12% ao ano na entrada de 2024.
Foi a a primeira reunião do Copom, com a participação de Gabriel Galípolo, novo diretor de Política Monetária do BC, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao lado do presidente da instituição, Roberto Campos Neto.
Com a queda da inflação, que recuou em julho para 0,07%, o governo federal e setores da economia tem pressionado o Banco Central para reduzir os juros.
Segundo o IPCA-15, prévia da inflação, em julho o índide acumulava 3,19% nos últimos 12 meses, resultado abaixo do centro da meta preestabelecida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), de 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto (de 1,75% para 4,75%).
Nesta quarta-feira, o presidente Lula voltou a criticar Roberto Campos Neto. "Acontece que esse rapaz que está no Banco Central, me parece que ele, não sei do que ele entende, mas ele não entende de Brasil e não entende de povo", afirmou. Lula disse ainda que o Banco Central deveria ter baixado o índice ainda no primeiro semestre de 2023.
No entanto, Campos Neto tem afirmado que a decisão é técnica e que o BC foca o chamado "horizonte relevante", que são oito meses à frente. Ao manter os juros elevados, o BC faz uso de seu principal instrumento de política monetária para reduzir a inflação. Isso acontece porque os juros mais altos encarecem o crédito, reduzem a disposição para consumir e estimulam novas alternativas de investimento.
Histórico
Iniciada em março de 2021, a escalada da taxa Selic até o maior patamar desde o fim de 2016 teve o objetivo de conter o avanço da inflação. No período, 12 altas seguidas resultaram na elevação dos juros básicos de 2% para 13,75% ao ano, nível atingido em agosto de 2022 e mantido até então.
O último recuo da Selic ocorreu em agosto de 2020, quando a taxa passou de 2,25% para 2% ao ano, o menor patamar da história. O nível persistiu até março de 2021, quando a alta da inflação resultou em 12 altas consecutivas dos juros básicos até o atual patamar, o maior nível dos últimos seis anos.
Entenda a Selic
A taxa básica é a mais baixa da economia e funciona como piso para os demais juros cobrados no mercado. Ela é usada nos empréstimos entre bancos e nas aplicações que as instituições financeiras fazem em títulos públicos federais.
A Selic é a taxa que os bancos pagam para pegar dinheiro no mercado e repassá-lo a empresas ou consumidores em forma de empréstimos ou financiamentos. Por esse motivo, os juros que os bancos cobram em contratos de crédito são sempre superiores à Selic.
A taxa básica também é o principal instrumento do BC para manter a inflação sob controle, perto da meta estabelecida pelo governo. Isso acontece porque os juros mais altos encarecem o crédito, reduzem a disposição para consumir e estimulam alternativas de investimento.
Quando o Copom aumenta a Selic, o objetivo é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Já quando o Copom reduz os juros básicos, a tendência é que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo.