FÁTIMA MEIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO -
O ministro da Defesa, José Mucio Monteiro, afirmou nesta quinta-feira (21) que vai tratar com os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica da delação premiada firmada com a PF (Polícia Federal) do ex-ajudante de ordens Mauro Cid. No acordo, Cid teria falado sobre um suposto golpe articulado pelo governo Bolsonaro após a derrota nas eleições de 2022.
Supostamente, Bolsonaro teria recebido uma minuta de golpe em que previa a realização de nova votação, além da prisão de opositores políticos. Em conversa com a imprensa hoje, Mucio disse desconhecer o conteúdo da delação premiada de Cid, mas afirmou estar seguro de que as Forças Armadas foram responsáveis pela continuidade da democracia brasileira.
"Só de uma coisa eu tenho absolutamente certeza: o golpe não interessou em momento nenhum às Forças Armadas. São atitudes isoladas de componentes das Forças. O Exército, a Marinha e a Aeronáutica, nós devemos a eles a manutenção da nossa democracia", afirmou.
Em nota, a defesa de Cid informou que "não tem os referidos depoimentos, que são sigilosos, e por essa mesma razão não confirma seu conteúdo", que consta, supostamente, da delação premiada.
Conversa com comandantes
Mucio admitiu que o assunto será tratado internamente entre os três comandantes militares — o tenente-brigadeiro do ar Marcelo Kanitz Damasceno (Aeronáutica), o almirante de esquadra Marcos Sampaio Olsen (Marinha) e o general Tomás Miguel Ribeiro Paiva (Exército).
"Eu vou conversar. Por exemplo, o Tomás está no Amazonas. Eu vou telefonar. Na realidade, isso não mexe conosco. Trata-se de pessoas que pertenceram aqui, são pessoas que estão na reserva, os citados. Desejamos muito que tudo seja esclarecido. Precisamos desses nomes", afirmou.
"Eu falo todos os dias com todos os comandantes, ora presencialmente, ora por telefone. Hoje, por outro assunto, temos um compromisso com o almirante Olsen [Marinha]. Acho que com o brigadeiro Damasceno [Aeronáutica] também, por conta de outros assuntos também. Mas o general Tomás está em Tabatinga, no norte do Amazonas, de maneira que só vou falar com ele na sexta-feira", completou.
O ministro da Defesa admitiu que o assunto é sensível às Forças Armadas. "Evidentemente que constrange esse ambiente em que a gente vive, essa áurea de suspeição coletiva nos incomoda. Mas essas declarações que saíram hoje são relativas ao governo passado, aos comandantes passados. Não mexe com ninguém que está na ativa", destacou.
Visita do hacker ao Ministério da Defesa
Diante da insistência dos jornalistas sobre ter ciência sobre o caso, o ministro foi enfático ao dizer não ter "acesso nenhum" às informações.
"Gostaria muito de tê-las até para que pudéssemos tomar as providências, mas nós não temos essas informações. Quando o hacker [Walter Delgatti] disse que tinha estado aqui [no Ministério da Defesa] com quatro ou cinco pessoas, fiz o ofício, mandei para o doutor Andrei [Rodrigues, diretor-geral da Polícia Federal], com quem tenho ótimas relações, somos amigos. Ele disse que isso estava sob segredo de Justiça. Fiz um ofício ao ministro Alexandre [de Moraes, do STF], de quem também sou amigo, mas não tivemos essas informações. Vivo das informações que vocês da imprensa divulgam de manhã cedo. E essas são as informações que tenho", despistou.
O auxiliar de Lula na Esplanada antecipou, porém, que os comandantes "vão dizer a mesma coisa".
"Não temos nada além do que vocês informaram. Ficamos sempre torcendo para que essas coisas tenham fim porque você pode imaginar o que é trabalhar com um monte de suspeição, é muito ruim. Quem não tem nada a ver com isso fica incomodado", resumiu.
Tempos da Justiça
Mucio garantiu que vai pedir as informações que constam da delação premiada de Mauro Cid que implicam o governo passado, mas frisou que "o tempo é da Justiça, que vai decidir isso".
"Na hora em que as Forças Armadas decidiram que a gestão disso seria da Justiça e do ministro Alexandre de Moraes, ficamos apenas aguardando que os processos fossem conclusos para que pudéssemos tomar providências", afirmou.
O que diz o Exército
Em nota, o Exército informou que "as informações prestadas pelo TC Cid fazem parte de processos investigatórios os quais estão sendo conduzidos pelos Órgãos competentes pelas apurações".
Com isso, segundo os militares, "a Força não se manifesta sobre processos apuratórios em curso, pois esse é o procedimento que tem pautado a relação de respeito do Exército Brasileiro com as demais Instituições da República. O Exército vem acompanhando as diligências realizadas por determinação da Justiça e colaborando com todas as investigações".
O Exército encerra o comunicado ao dizer que "a Força pauta sua atuação pelo respeito à legalidade, lisura e transparência na apuração de todos os fatos que envolvam seus militares".