Foto: Ricardo Stuckert
Um dia depois de dividir palanque em São Paulo com o pré-candidato Guilherme Boulos (PSOL) e dois dos prefeitos mais exaltados pelo PT na trajetória do partido, o presidente Lula afirmou neste domingo (30) que o atual chefe do Executivo municipal do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), é o "possível melhor gerente de prefeitura que este país já teve".
O petista participou, ao lado do aliado, que é pré-candidato à reeleição, da inauguração do programa Morar Carioca na comunidade do Aço, em Santa Cruz (zona oeste), que fica em frente à comunidade Três Pontes, uma região de influência do berço da maior milícia do estado.
Lula chegou a comparar a figura de Paes no Rio à de marcas da cidade como Ipanema, Copacabana, Cristo Redentor e Pão de Açúcar. Ele pretende apoiar a reeleição do prefeito na disputa eleitoral deste ano, apesar da resistência de setores petistas no Rio e de Paes não se mostrar disposto por enquanto a ceder a vaga de vice na chapa ao PT. O PSD é comandado nacionalmente por Gilberto Kassab, secretário no governo paulista de Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL).
"Conheço muitos prefeitos e trato todos com muito respeito. Mas eu queria dizer para vocês que hoje estou aqui diante do possível melhor gerente de prefeituras que este país já teve, que é o Eduardo Paes", afirmou Lula.
No sábado (29), Lula chegou a exaltar Marta Suplicy, que foi prefeita de São Paulo pelo PT entre 2001 e 2004 e será candidata a vice na chapa de Boulos, e afirmou que ela não conseguiu se reeleger por haver preconceito contra quem adota políticas sociais a favor dos mais pobres. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), que foi prefeito na capital paulista entre 2013 e 2016, também estava no palco.
O PT já chegou ao auge, em 2012, de eleger 650 prefeitos Brasil afora em 2020, após retração, ficou no comando de 183 prefeituras.
"O Rio de Janeiro é a cara do Brasil. Em qualquer parte do mundo, quando você fala do Brasil, o pessoal lembra do Rio. Ou lembra de Ipanema, ou de Copacabana, ou do Cristo Redentor, ou do Pão de Açúcar, e agora lembra do Dudu. Não é só o Pão de Açúcar", disse Lula ao exaltar o aliado do PSD.
Em seu discurso, Paes também exaltou o aliado petista, disse que "é impossível governar sem ajuda do governo central" e afirmou que "não é esse oba-oba todo para entregar só 16 apartamentos". "A gente pegou a área livre, fizemos os primeiros prédios, alguns prontos, alguns ficando prontos. Na medida em que formos dando as casas, vamos demolindo as casas provisórias e fazendo mais prédios lá", completou.
Assim como havia feito nos dois discursos de sábado em São Paulo, o presidente buscou afastar a imagem de "pai dos pobres", na tentativa de reforçar a imagem de atenção também a outros segmentos da sociedade, como a classe média.
"Eu não sou o pai do pobre. Eu, na verdade, sou vocês. Vocês que fizeram com que eu estivesse aqui. Sou um de vocês, que, por causa de uma força muito poderosa lá de cima... Porque, para chegar onde cheguei, não tem explicação se não foi a mão de Deus. Tenho certeza que a mão de Deus me trouxe até aqui."
Lula voltou a falar sobre sua trajetória e as dificuldades enfrentadas pela sua mãe para criar os filhos sem casa própria. "Conto isso para vocês saberem que vocês não têm como presidente da República um estranho no ninho. Foi muita miséria. Mas nunca fiquei chorando as desgraças que eu passei. Sempre acreditei que era possível levantar a cabeça, acreditar muito em Deus, ter fé e a gente vencer na vida."
O presidente também repetiu críticas a Bolsonaro, sem citar o nome do ex-mandatário. "Lamentavelmente houve um período conturbado no país e a gente teve um governo que passou a contar mentira para o povo", disse. "Começamos a retomar no ano passado todas as obras paralisadas. Esse país foi abandonado. Governar não é mentir, não é falar, é fazer", completou.
"O povo mais humilde só é lembrado pelas pessoas na época da eleição. Aí todo mundo gosta de pobre e fala mal de banqueiro. Depois que ganha a eleição, começa a andar de jet-ski", disse Lula.
Ao final do seu discurso, o petista disse à plateia que "vocês vão perceber que este país vai melhorar".
"Hoje, a gente não fez tudo ainda. Mas, amanhã, a gente vai fazer. Porque a gente vai consertar este país", afirmou.
"Muito dinheiro, na mão de poucas pessoas, significa pobreza, analfabetismo, mortalidade infantil, fome, miséria. Porque isso é concentração de riqueza. Mas, pouco dinheiro na mão de muitos, muda o jogo. Todo mundo vai poder comprar um pouquinho, comer melhor. E a economia gira. E é esse país que eu quero fazer e já fiz uma vez", afirmou o presidente, ao acrescentar que "não queremos tirar nada de ninguém" e que "vocês já estão com a paciência esgotada".
Segundo a Prefeitura do Rio, responsável pelo programa Morar Carioca, foram entregues os três primeiros blocos de um total de 44 que estão sendo construídos na região. Ao todo, o Morar Carioca do Aço prevê 704 unidades residenciais, beneficiando cerca de 4.000 pessoas.
Os investimentos na região foram de aproximadamente R$ 243 milhões e parte do valor (R$ 45 milhões) foi financiado pelo governo federal, via empréstimo assinado entre a prefeitura e o Banco do Brasil. O programa prevê intervenções em 22 comunidades no total.
O conjunto habitacional foi inaugurado na comunidade do Aço, próximo à comunidade Três Pontes. O local é considerado o berço da maior milícia do Rio de Janeiro, que até dezembro era comandada por Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, que foi preso na véspera de Natal.
Antes de ser preso, em outubro de 2023, o sobrinho de Zinho, Matheus da Silva Rezende, o Faustão, foi morto em operação policial. Investigadores acreditam que o líder, sabendo que estava perto de ser capturado, determinou a maior queima de ônibus da história do Rio de Janeiro. Na ocasião, 35 coletivos foram incendiados para facilitar sua fuga.
Entre os presentes no público estava o vereador Júnior da Lucinha (PSD), que teve o nome entoado em coro por pelo menos três vezes durante os discursos. Ele é filho da deputada estadual Lucinha (PSD-RJ), denunciada pela Promotoria sob acusação de integrar o braço político da milícia de Zinho, onde ela também tem seu reduto eleitoral.
Paes, que foi chamado pela Promotoria como testemunha, cumprimentou Junior nominalmente, ao agradecer a presença dos vereadores.
Fonte: Folhapress