Foto: Ricardo Stuckert/PR
O presidente Lula (PT) afirmou ao The New York Times que quer ser tratado com respeito por Donald Trump e acusou o governante americano de ignorar as ofertas do Brasil para conversar. Também afirmou que não vai aceitar ordens de Trump.
Publicadas na madrugada desta quarta-feira (30), as declarações fazem parte da primeira entrevista de Lula ao jornal em 13 anos.
"Tenha certeza de que estamos tratando isso com a máxima seriedade. Mas seriedade não exige subserviência", disse o presidente brasileiro. "Eu trato todos com grande respeito. Mas quero ser tratado com respeito."
Trump confirmou no domingo (27) que tarifas sobre produtos importados de outros países entrarão em vigor na sexta-feira (1º), como planejado. A sobretaxa atinge o Brasil e foi estabelecida em 50%, uma das maiores do mundo.
O jornal americano afirma que a decisão é em grande parte devido às acusações contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e cita o fato de Trump ter chamado o caso de "caça às bruxas".
Na entrevista, Lula afirmou que o presidente americano está infringindo a soberania do Brasil.
"Em nenhum momento o Brasil vai negociar como se fosse um país pequeno diante de um país grande", disse. "Nós conhecemos o poder econômico dos Estados Unidos, reconhecemos o poder militar dos Estados Unidos, reconhecemos o tamanho tecnológico dos Estados Unidos. Mas isso não nos deixa com medo. Nos deixa preocupados."
Para o New York Times, talvez não haja nenhum líder mundial desafiando o Trump tão fortemente quanto Lula.
O presidente brasileiro é definido como possivelmente o estadista latino-americano mais importante deste século. O jornal cita os discursos dele em defesa da soberania brasileira e da Justiça do país.
A Casa Branca não respondeu a um pedido de comentário à entrevista.
O New York Times afirma que Trump e Bolsonaro são dois políticos com estilos semelhantes ao não aceitarem a derrota nas campanhas pela reeleição.
"A diferença marcante é que quatro anos depois, Trump retornou ao poder, enquanto o Bolsonaro agora enfrenta a prisão", diz o jornal, referindo-se à determinação para que o ex-presidente use tornozeleira eletrônica antes do julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal) por tentativa de golpe.
"O comportamento do presidente Trump desviou de todos os padrões de negociações e diplomacia", declarou Lula. "Quando você tem uma divergência comercial, uma divergência política, você pega o telefone, marca uma reunião, conversa e tenta resolver o problema. O que você não faz é taxar e dar um ultimato."
Ele disse também que os americanos irão enfrentar preços mais altos para café, carne, suco de laranja e outros produtos brasileiros. "Nem o povo americano nem o povo brasileiro merecem isso. Porque vamos passar de uma relação diplomática de 201 anos de ganha-ganha para uma relação política de perde-perde."
A reportagem lembra também as críticas de Trump às ações do STF em relação às empresas de tecnologia, com remoção de contas e postagens, além de ordens em sigilo.
O jornal aponta o ministro Alexandre de Moraes como um alvo da Casa Branca e cita a revogação de vistos dele e dos outros ministros do STF, além do lobby do deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, para a aplicação de sanções.