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A pouco mais de duas semanas do primeiro turno da eleição presidencial de 2022, a disputa segue estável com Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sustentando uma vantagem de 12 pontos sobre Jair Bolsonaro (PL).
O petista tem os mesmos 45% das intenções de voto marcados há uma semana, e o atual presidente oscilou negativamente de 34% para 33%. Em terceiro lugar, empatados tecnicamente, vêm Ciro Gomes (PDT), com 8%, e Simone Tebet (MDB), com 5%. Foi o que aferiu a nova pesquisa do Datafolha, realizada de terça (13) a quinta-feira (15).A fotografia é especialmente ruim para Bolsonaro, que nas últimas semanas abriu todas as caixas de ferramentas à disposição para tentar aproximar-se de Lula, líder desde que voltou ao páreo pelas mãos da Justiça em 2021.
O presidente interveio na Petrobras e tem patrocinado baixas consecutivas de preço de combustíveis, elaborou o Auxílio Brasil de R$ 600 para ser pago a famílias mais pobres justamente na campanha e apelou à sua base mais radical com os atos do 7 de Setembro.
Agora, ensaia uma inconvincente ofensiva moderada após um deputado bolsonarista ter agredido verbalmente a jornalista Vera Magalhães (TV Cultura) ao fim do debate dos candidatos ao Governo de São Paulo, na terça (13). Sua rejeição, já alta, oscilou para cima e afetou o viés da oscilação.
Na rodada anterior, feita imediatamente após a ida de multidões bolsonaristas às ruas em Brasília, Rio e São Paulo, Bolsonaro havia oscilado dois pontos para cima, dentro da margem de erro. A atual estabilidade mostra que, se efeito houve dos atos do 7 de Setembro, ele já está espraiado.
Neste levantamento, encomendado pela Folha de S.Paulo e pela TV Globo, o instituto ouviu 5.926 eleitores em 300 cidades, de 13 a 15 de setembro. Ele foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral sob o número BR-04099/2022. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos, considerando um índice de confiança de 95%.
Para Lula, o cenário é mais positivo, mas não tanto quanto sua campanha gostaria. Nos últimos dias, o ex-presidente passou a falar abertamente em querer vencer no primeiro turno, buscando o voto de eleitores de Ciro e de Tebet.
Os terceiros colocados seguem numa rota de estagnação, com o pedetista oscilando um ponto para cima sobre a rodada anterior e a senadora, ficando na mesma, dificultando o plano do petista. Hoje, Lula tem os mesmos 48% dos votos válidos da semana passada, que excluem brancos e nulos e são a régua final da Justiça Eleitoral, muito próximo dos 50% mais um voto necessários para fechar o jogo no primeiro turno. Mas esse número já foi de 54%, em maio.
Nos grandes segmentos do eleitorado, o quadro é de estabilidade. Lula mantém sua vantagem geral pela ampla dianteira que tem entre os mais pobres: 49% do eleitorado entrevistado é composto daqueles que ganham até 2 salários mínimos, e nesse grupo o petista tem 52%, ante 27% do presidente. Entre quem recebe o Auxílio Brasil, o ex-presidente bate o atual por 57% a 26%.
O estrato daqueles que ganham de 2 a 5 mínimos (34% dos eleitores), grosseiramente podendo ser chamado de classe média baixa pelos padrões brasileiros, ainda aponta um empate técnico: Bolsonaro pontua 40% e Lula, 39%.
Mas o presidente havia tido uma grande subida entre eles até o começo do mês, reduzindo de 13 para 3 pontos a vantagem de Lula, pelo corte conservador dessa fatia do eleitorado e pelo impacto de medidas como a queda no preço do gás e gasolina. Esse movimento cessou, e o petista oscilou dois pontos para cima em relação à semana passada.
Bolsonaro só mantém folga sobre Lula entre os mais ricos, mas eles são minoritários: 9% ganham de 5 a 10 mínimos, e 4%, mais de 10 mínimos. O presidente caiu oito pontos (margem de erro específica de quatro pontos), mas ainda vence por 45% a 35% no primeiro grupo. No segundo, bate o antecessor por 42% a 29%.
Em relação à pesquisa anterior, houve uma mudança regional expressiva. O petista teve o maior crescimento no Centro-Oeste (7% da população): oito pontos, chegando a 38%, empatando com os 40% de Bolsonaro, que caiu seis pontos na região em que o agronegócio associado a ele é mais forte.
No pivotal Sudeste (43% do eleitorado), a oscilação foi positiva para Lula (de 41% para 43%) e negativa para seu principal rival (de 36% para 34%). Em Minas Gerais, houve mudança no cenário a favor de Bolsonaro: Lula passou de 47% para 43%, o presidente oscilou de 30% para 33%; com isso, a vantagem do petista, que era de 17 pontos, agora é de 10.
As mulheres também seguem fazendo grande diferença em favor do ex-presidente, reflexo da grande rejeição que Bolsonaro tem entre elas devido a seu histórico de tiradas machistas e a percepção, atestada em pesquisas qualitativas, de uma imagem pouco empática. Elas são 52% da amostra do Datafolha.
Entre elas, Lula segue com 46% e Bolsonaro, com 29%. O crescimento que o presidente havia registrado neste grupo, fruto da exposição maior de sua mulher, Michelle, parece ter ficado restrito mesmo aos nacos evangélicos e de renda intermediária do voto feminino. Entre os homens, o presidente caiu sete pontos e agora lidera por 44% a 37%.
Se a eleição fosse uma disputa apenas pelo voto evangélico, 27% do eleitorado, Bolsonaro ganharia no primeiro turno: tem 49% (52% dos válidos), ante 32% de Lula. A vantagem, contudo, foi reduzida pela primeira vez em levantamentos recentes: era de 51% a 28% para o presidente na semana passada.
Por outro lado, nos menos organizados politicamente católicos (56% da amostra), Lula devolve o placar com 51% (ou 53% dos válidos) a 28%.
Com tudo isso, as duas semanas finais da campanha colocarão duas estratégias semelhantes: a da urgência. Os petistas falarão sobre necessidade do voto útil para tentar finalizar a disputa no dia 2 de outubro, citando o crescente clima de violência política no país. Como mostrou o mesmo Datafolha em pesquisa separada, 67,5% dos brasileiros temem ser atacados por sua preferência eleitoral.
Já os bolsonaristas terão de dobrar suas apostas nos instrumentos até aqui utilizados, certamente tornando mais agudas as críticas a Lula e o apelo ao antipetismo, buscando dar mais quatro semanas para que o presidente tente ver as ferramentas de mais impacto, as econômicas, fazerem alguma diferença no eleitorado mais pobre.
Fiéis dessa balança a contragosto, Ciro e Tebet não conseguiram furar o caráter bidimensional da disputa até aqui.
Abaixo deles, há todo o pelotão restante de candidatos: Soraya Thronicke (UB) passou de 1% para 2%. Não pontuaram Felipe D'Ávila (Novo), Sofia Manzano (PCB), Vera Lúcia (PSTU), Leo Péricles (UP), Constituinte Eymael (DC) e Padre Kelman (PTB).