Foto: Ricardo Stuckert
Em entrevista coletiva em Lisboa, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comentou a carta publicada na Folha de S.Paulo pelos economistas Arminio Fraga, Edmar Bacha e Pedro Malan endereçada a ele. Lula disse que sabe ouvir conselhos e repetiu que já cumpriu as regras de responsabilidade fiscal quando esteve no governo.
"Ainda não li a carta, mas fiquei feliz ao saber de uma carta de pessoas importantes me alertando sobre problemas econômicos e dando sugestões. Eu sei ouvir conselhos e, se fizer sentido, seguir", afirmou o presidente eleito. A mensagem também foi publicada em uma postagem no Twitter.
Ao lado do primeiro-ministro de Portugal, Antonio Costa, Lula repetiu que agiu de modo responsável quando era presidente, e que conseguiu baixar inflação, desemprego e o percentual da dívida interna do país.
"Eu fico às vezes chateado quando vejo sinais de 'olha, qual é a política fiscal?' Ninguém tem autoridade para falar em política fiscal comigo, porque durante todo o meu período de governo fui o único pais do G20 que fez superávit primário durante os 8 anos de mandato", afirmou.
"Aprendi com minha mãe, que era analfabeta, que a gente só pode gastar o dinheiro que a gente tem ou que a gente ganha. Mas se a gente tiver que fazer dívida com um ativo novo, que a gente faça com responsabilidade, para que o país voltar a crescer", completou o presidente eleito.
Em texto publicado na quinta, intitulado "Vai cair a Bolsa? Aumentar o dólar? Paciência?", os economistas questionaram o presidente sobre declarações relativas às recentes reações do mercado, na esteira das discussões da equipe de transição sobre a política fiscal durante a COP27.
Em discurso proferido na conferência no Egito, Lula defendeu furar o teto de gastos como uma "responsabilidade social", para conseguir financiar programas sociais.
"Se eu falar isso vai cair a Bolsa, vai aumentar o dólar? Paciência", disse Lula, completando que a flutuação dos índices não acontece "por causa das pessoas sérias, mas por conta dos especuladores que ficam especulando todo santo dia".
Na carta em resposta ao presidente, os economistas dizem que "a alta do dólar e a queda da Bolsa não são produto da ação de um grupo de especuladores mal-intencionados. A responsabilidade fiscal não é um obstáculo ao nobre anseio de responsabilidade social, para já ou o quanto antes."
"É preciso que se entenda que os juros, o dólar e a Bolsa são o produto das ações de todos na economia, dentro e fora do Brasil, sobretudo do próprio governo. Muita gente séria e trabalhadora, presidente", dizem os economistas no documento.
Nos últimos dias, um sentimento de busca por proteção foi observado nos mercados, com queda da Bolsa e alta do dólar e dos juros futuros, com investidores temerosos já apostando que será necessários novos aumentos da taxa Selic pelo Banco Central (BC) para controlar a inflação futura.
Fonte: Folhapress