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A inclusão do apresentador Fausto Silva, o Faustão, 73, na fila de transplantes foi informada pela equipe médica do hospital Albert Einstein no último dia 20 e ele acabou recebendo o novo coração neste domingo (27).
A rapidez com que foi realizado o transplante surpreendeu muita gente, que levantou boatos de que o apresentador tenha furado a fila por ser famoso, o que é negado tanto por autoridades quanto por especialistas que acompanham a lista de transplantes de órgãos. Segundo eles, essa possibilidade não existe, uma vez que o próprio sistema possui travas para evitar favorecimentos.
Segundo o Ministério da Saúde, quase 30% dos transplantes realizados no Brasil desde o início do ano ocorreram com menos de um mês de espera após a entrada de paciente na fila, como ocorreu com Faustão.
Leia, a seguir, cinco pontos sobre o caso.
Porque Faustão teve prioridade na fila de transplantes?
O tempo de espera por um transplante depende de vários fatores, como o tipo de órgão, tipo sanguíneo e a condição do doador e do receptor. Segundo a Secretaria de Estado da Saúde de
São Paulo, para o caso específico de Faustão, do tipo sanguíneo B e precisando de um coração, a espera era de um a três meses. No entanto, como o apresentador estava em condição crítica, foi incluído entre os casos prioritários, informação corroborada pelo Ministério da Saúde, em nota.
Após a CNT (Central Nacional de Transplantes) ser notificada do coração doado, o sistema informatizado de gerenciamento levantou 12 pacientes que atendiam aos requisitos para receber o órgão. Desses, quatro tinham prioridade devido à gravidade das suas condições de saúde, e Faustão ocupava a segunda posição.
O órgão, então, foi oferecido à equipe transplantadora do paciente que ocupava a primeira posição, mas ela recusou o órgão, decisão que pode ter sido tomada devido a potenciais incompatibilidades entre receptor e doador. Desta forma, o coração seguiu para o segundo paciente da lista, que era Faustão. Caso a equipe analisasse que o novo órgão não seria o ideal, ele seria passado para o terceiro da fila, e assim por diante.
Ricos e famosos são priorizados?
Não existe priorização de pessoas famosas e/ou de classe alta na fila nacional de transplantes. Nela, os pacientes são identificados por números, não pelos nomes, para impedir qualquer tipo de favorecimento pessoal.
Segundo o médico cardiologista Bruno Biselli, supervisor do programa de insuficiência cardíaca e transplante do Hcor, é impossível que fatores como poder financeiro e a influência garantam prioridade ao receptor.
Outro famoso que já foi priorizado na fila de transplantes foi Mussum, humorista de "Os Trapalhões". Em 1994, ele ficou cinco dias internado com insuficiência cardíaca grave até receber o coração. No caso dele, o transplante era necessário porque tinha uma miocardiopatia dilatada, doença em que o coração aumenta seu tamanho e não trabalha satisfatoriamente. O transplante transcorreu bem e não houve rejeição ao novo órgão. Ele acabou morrendo dez dias depois, mas por uma infecção grave nos pulmões.
Já o cantor de funk MC Marcinho não teve a mesma sorte. Ele estava internado desde o fim de junho por causa de um quadro de insuficiência cardíaca e renal. No entanto, depois de internado, ele sofreu uma parada cardíaca que o deixou dependente de um coração artificial no mês passado. Ele continuou na fila de transplante de coração, mas uma infecção generalizada o levou a sair da fila. Como ele tinha diabetes e problemas renais, sua condição mais delicada o impossibilitou de receber um novo órgão. Por fim, ele vinha respirando por ventilação mecânica e fazendo hemodiálise, mas morreu no último sábado (26).
Como funciona a lista de espera de transplantes?
A lista de transplantes é única, controlada pelo SUS (Sistema Único de Saúde) e vale para as redes pública e particular. Além do tempo de inscrição na fila, a gravidade do paciente determina a prioridade. Dentro da fila principal há uma fila secundária, organizada pelo tipo sanguíneo dos pacientes. Existem ainda outros critérios a serem considerados, como o peso, a altura e um exame imunológico que determina se há compatibilidade entre doador e receptor.
A idade do doador é relevante. No Brasil, doadores acima de 45 anos costumam ser rejeitados, pois há maior risco de complicações e a falta de exames complementares, como cateterismo das coronárias nesses doadores, limitam sua ampla utilização. Além disso, o elevado número de mortes violentas de jovens, sobretudo em acidentes de motocicletas ou baleados, aumenta a disponibilidade de potenciais doadores jovens.
Se houver incompatibilidade imunológica, ou seja, há a detecção de que o receptor tem anticorpos já formados para o tecido daquele doador, considera-se que há elevada chance de rejeição hiperaguda. Neste caso, o órgão passa para o próximo da fila que seja compatível.
Como é o processo de escolha dos receptadores?
Os potenciais doadores são identificados pelas Comissões Intra-hospitalares de Transplante, nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e Emergências em pacientes com o diagnóstico de morte encefálica (morte das células do sistema nervoso central). O próximo passo é buscar a autorização da família para que ocorra a retirada dos órgãos.
No processo, o hospital precisa notificar a Central Estadual de Transplantes sobre o paciente em morte encefálica (potencial doador de órgãos e tecidos) ou com parada cardiorrespiratória (potencial doador de tecidos) para que a central confirme o diagnóstico e inicie os testes de compatibilidade entre o potencial doador e os potenciais receptores em lista de espera. Quando existe mais de um receptor compatível, a decisão de quem receberá o órgão passa por critérios tais como tempo de espera e urgência do procedimento.
Depois, através de um sistema informatizado, a central gera uma lista de potenciais receptores para cada órgão e comunica os hospitais onde eles são atendidos. As equipes de transplante, junto com a central, adotam as medidas necessárias para viabilizar a retirada dos órgãos (meio de transporte, cirurgiões, pessoal de apoio etc.), e o transplante é realizado.
Como é a recuperação do paciente?
O pós-operatório é parecido com cirurgia cardíaca qualquer, numa UTI. O paciente costuma ser extubado em 48 horas após o transplante. Imunossupressores serão necessários por toda a vida para evitar que o coração seja compreendido como um tecido que não pertence ao corpo. Esses medicamentos têm o papel de inibir o sistema imunológico.
Há tendência de redução dos medicamentos e há casos de pacientes com sobrevida de duas décadas com doses mínimas de medicação imunossupressora. A fase inicial pós-transplante é a mais preocupante, em especial as primeiras 48 horas, e, depois, os primeiros 30 dias.
No primeiro ano, a taxa de sobrevida é de 80%. Ao passar disso, espera-se que o paciente viva por mais de 12 ou 13 anos. No entanto, há casos em que eles vivem muito mais que isso, como o alagoano Francisco Sebastião de Lima, que viveu 34 anos depois de receber um novo coração, aos 17 anos. Ele era o transplantado mais longevo do país e morreu em 11 de abril deste ano.
Fonte: Folhapress