Um termo que os piauienses passaram a ouvir muito nos últimos tempos é “hidrogênio verde”, sobretudo por parte do governador Rafael Fonteles e outros membros do governo, que têm apontado este item como uma promessa para deslanchar a economia piauiense nas próximas décadas.
Mas afinal, o que é hidrogênio verde? Como o Piauí pode produzi-lo? Ele é utilizado em que? É o que vamos tentar explicar nesta reportagem.
O principal objetivo da produção de hidrogênio é utilizá-lo como fonte de energia, em substituição ao atual ciclo que gera gases que têm contribuído para o aquecimento global. Atualmente, a exploração do petróleo é de onde se obtém, por exemplo, a gasolina. No entanto, os danos oriundos dessa exploração, que emite o gás carbônico, têm tido efeitos que têm chamado a atenção de pesquisadores do mundo inteiro.
O hidrogênio verde é uma denominação que se dá ao elemento químico “hidrogênio” obtido através de fontes de energias renováveis, como usinas eólicas e usinas solares.
O hidrogênio é um elemento químico presente de diversas formas na natureza. A forma mais comum é em forma de gás, o conhecido gás hidrogênio, que tem como fórmula ‘H2’. O elemento também está presente na fórmula química da água (H2O), que é composto por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio.
Cientistas começaram a identificar que o hidrogênio pode ser uma importante alternativa energética pois a sua queima não gera gás carbônico (CO2). Atualmente, estão em desenvolvimento estudos para o uso do hidrogênio em carros, aviões, e até na eletricidade de casas e empresas.
Foto: Renato Andrade / Cidadeverde.com
Como ele é obtido? Protótipo ajuda a entender funcionamento
O hidrogênio verde é obtido por meio da eletrólise da água, utilizando energia limpa e renovável, sem emissões de CO2. Esse processo separa hidrogênio e oxigênio da água através de corrente elétrica, exigindo fontes limpas como solar, hídrica ou eólica.
O professor Dr. Juan Aguiar, coordenador do Núcleo de Formação e Pesquisa em Energias Renováveis do Piauí (NUFPERPI), junto com outros pesquisadores, desenvolveu um protótipo que explica como funciona o processo de obtenção do hidrogênio verde.
No caso em questão, é utilizada a energia solar para gerar a corrente elétrica que, na água, vai separar o hidrogênio do oxigênio.
“A ideia é fazer um sistema fotovoltaico que produza muito mais energia do que você precisa. Essa energia que vai ser produzida, vai vir pra cá, aqui você vai quebrar, hidrogênio e oxigênio. O oxigênio também é insumo de cadeia produtiva, hospitais, e o hidrogênio, você vai armazenar”, explicou.
Por que o Piauí é considerado um potencial na geração?
A principal característica do Piauí é ter sol e vento, que são as principais “matérias primas” das fontes de energia renováveis. Atualmente, o Piauí dispõe de usinas solares e eólicas que geram aproximadamente 5 GW (sendo que 3,6 GW são gerados em parques eólicos e 1,4 GW em parques solares).
Além de contar com boas condições naturais no que diz respeito à geração de energia, um elemento importante para a geração de hidrogênio verde é a água. Os estudos avaliam a viabilidade do uso da água do Rio Parnaíba nas usinas que serão instaladas em Parnaíba. No entanto, por conta dos protocolos do Acordo de Paris, ainda se discute essa possibilidade, uma vez que a prioridade é para água de reuso, ou seja, que já teve uso pela atividade humana e não seria mais possível ser consumida.
O CEO da Green Energy Park, uma das empresas que vai se instalar no Piauí, Bart Biebuyck, declarou durante a solenidade de lançamento da pedra fundamental que o Piauí foi escolhido para a produção do hidrogênio verde por reunir todas as características necessárias para a produção de energias renováveis.
"Já viajei o mundo inteiro e em nenhum lugar encontramos a melhor condição de produzir o hidrogênio verde como o Piauí. Aqui reúne em um só lugar todas as necessidades para produção. Há muito sol, vento, hidrelétrica e água", disse no dia 15 de dezembro.
Foram assinados contratos para duas empresas: Green Energy Park e Solatio. A Green Energy Park e a Solatio investirão R$ 200 bilhões ao longo dos próximos anos, gerando mais de 20 mil empregos nesses projetos. Serão mais de 20 GW de potência gerados. As obras das usinas devem iniciar no fim de 2024, e a primeira etapa está prevista para ser concluída em 2027, seguindo as etapas seguintes até 2035.
O objetivo é a construção de usinas solares. O local também foi escolhido por conta dos benefícios fiscais da Zona de Processamento de Exportação (ZPE), pela proximidade com a subestação elétrica de Parnaíba, que permitirá que haja a ligação com os geradores, e a proximidade com o porto de Luís Correia, que visa ser o canal de escoamento dos produtos para a Europa.
Além da produção de hidrogênio verde, o objetivo também é produzir amônia. O produto, que é utilizado como fertilizante para a agricultura, também é obtido em um processo semelhante à obtenção do hidrogênio. O presidente da Solatio Energia, Pedro Vaquer, durante a inauguração, citou que em um primeiro momento, os produtos deverão ser destinados à exportação, mas que posteriormente, o Brasil poderá ser consumidor.
"É possível que no início a produção seja mais destinada à Europa porque o continente europeu é mais necessitado desse produto, a causa da guerra da Ucrânia com Rússia, mas não tenho dúvida, sendo o Brasil um dos maiores produtores de agricultura e maiores importadores de fertilizantes, e sendo amônia a base do fertilizante, é evidente que todo este produto, a médio prazo, será 100% destinado ao Brasil", citou.