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Um dos alimentos mais tradicionais da mesa do brasileiro está mais caro. De janeiro a dezembro de 2023, o arroz acumulou inflação de 24,54% no país, segundo o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
É a maior alta de preços do produto em 12 meses desde o período encerrado em agosto de 2021. À época, a variação acumulada era de 32,68%.
Considerando apenas o intervalo de janeiro a dezembro, a inflação registrada pelo arroz em 2023 (24,54%) é a mais elevada desde 2020. Naquele ano, marcado pelo início da pandemia de Covid-19, o produto acumulou disparada de 76,01%.
A alta em 2023 destoa do comportamento dos preços na média da alimentação no domicílio no IPCA. No ano passado, esse subgrupo do índice registrou deflação (queda) de 0,52%. Foi a primeira redução dos preços da alimentação em casa desde 2017, segundo o IBGE.
Em dezembro de 2023, a inflação mensal do arroz acelerou a 5,81%. Foi a maior alta do produto em um mês no IPCA desde novembro de 2020 (6,28%).
De acordo com analistas, a carestia atual reflete uma combinação de fatores. Redução da oferta no período de entressafra, pressão do mercado externo e problemas climáticos no Rio Grande do Sul fazem parte dessa lista. Os gaúchos respondem por cerca de 70% da produção nacional.
Na cidade de São Paulo, o preço médio do pacote de 5 kg de arroz rompeu os R$ 25 em dezembro, conforme pesquisa da cesta básica divulgada pelo Procon-SP em convênio com o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).
No mês passado, o consumidor paulistano pagou R$ 25,48, em média, pelo produto. Isso significa uma alta de 26,08% em relação a dezembro de 2022, quando o valor era de R$ 20,21.
Nesta terça-feira (23), era possível encontrar embalagens de 5 kg de arroz a partir de R$ 31,99 em um supermercado na zona sul do Rio de Janeiro. Marcas tradicionalmente mais caras custavam acima de R$ 40.
Alívio depende de nova safra
Evandro Oliveira, consultor da Safras & Mercado e especialista nas culturas de arroz e feijão, afirma que os preços do cereal só devem recuar no varejo a partir do aumento da oferta com a colheita da safra 2023/24. Isso, segundo o analista, tende a ser mais sentido pelo consumidor a partir de meados de abril.
"Os preços devem permanecer firmes agora. Só devem recuar com o ingresso da nova safra e das importações do Mercosul, especialmente do Paraguai. Antes disso, é muito difícil", projeta Oliveira.
Conforme o consultor, produtores de arroz vêm de um período de margens apertadas, o que resultou em corte de área plantada na safra 2022/23, com migração para grãos como soja e milho.
O cultivo na temporada passada também foi prejudicado pela falta de chuva no Rio Grande do Sul, o que afetou a produtividade e a qualidade das lavouras, diz Oliveira.
"No início de 2023, ainda tínhamos um dólar favorável para as exportações, acima de R$ 5. Já no segundo semestre, tivemos a entressafra, e a pá de cal para esse cenário foi a chegada de um El Niño de forte intensidade, que trouxe inundações para as lavouras gaúchas", afirma.
Os temporais do segundo semestre de 2023 no Rio Grande do Sul atrasaram o plantio da atual temporada. "Podemos ter atraso na colheita e alongamento do período de entressafra", diz Oliveira.
Estimativa divulgada neste mês pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) aponta que a safra brasileira de arroz será 7,2% maior em 2023/24 na comparação com 2022/23. O órgão também prevê aumentos de 5,8% na área e de 1,3% na produtividade das lavouras.
Enquanto isso, os preços pagos aos produtores abriram o ano de 2024 em alta. No dia 9 de janeiro, o valor da saca de 50 kg de arroz em casca alcançou R$ 131,44. É o maior patamar nominal (sem o ajuste pela inflação) da série histórica divulgada pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada). Os registros começaram em 2005.
Lista
O economista Gustavo Inácio de Moraes, professor da Escola de Negócios da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), diz que as cotações do arroz vêm sendo pressionadas no mercado internacional por restrições de oferta em países como a Índia.
Segundo Moraes, a possibilidade de safra maior neste ano no Brasil traz perspectiva de "acomodação" para os preços internos. "Não significa que os preços não vão aumentar, mas que o patamar será mais contido", afirma o professor.
Tradicional acompanhante do arroz nas refeições, o feijão-carioca, considerado o preferido do brasileiro, fechou 2023 com queda acumulada de 13,77% no IPCA. Já o feijão preto registrou alta de 13,20% no ano passado, ainda de acordo com o índice oficial de inflação do IBGE.
Fonte: Folhapress/Leonardo Vieceli