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O dia 1º de janeiro de 2025 ficou marcado na história da cidade de Parnaíba, munícipio do Piauí, localizado a 345 km da capital Teresina. Após um almoço, nove pessoas de uma mesma família passaram mal e foram encaminhadas ao hospital. Uma delas, Manoel da Silva, de 18 anos, teve morte imediata. A polícia foi acionada e desde então o caso vem sendo investigado.
Cinco dias após a intoxicação da família, a Polícia Civil e o Departamento de Polícia Científica do Piauí já tiveram respostas para algumas perguntas. O exame comprovou que a família foi envenenada por uma substância tóxica, chamada de terbufós, no arroz consumido pela família.
O pesticida utilizado em lavouras deixou quatro pessoas mortas. Uma permanece internada, em estado grave, no Hospital de Urgência de Teresina (HUT).
Veja o que já se sabe sobre o caso da família envenenada em Parnaíba.
A comida
Segundo testemunhas, a família recebeu a doação de cestas básicas e peixes na manhã do dia 1º de janeiro. Os alimentos foram doados por um casal que costuma fazer trabalho filantrópico na cidade. Eles foram ouvidos pela polícia e liberados.
Na casa da família foram encontrados arroz e farofa, que foram preparados na noite do dia 31 de dezembro, e peixes (tipo manjuba) que foram fritos no dia 1º de janeiro, para o almoço da família. Todos os alimentos foram apreendidos pela polícia.
Os exames realizados apontaram que no peixe não havia substâncias capazes de intoxicar a família.
No arroz foi encontrada uma substância comum em pesticidas, o terbufós. Essa substância também foi encontrada no estômago da primeira vítima - Manoel Leandro da Silva (18 anos) - que morreu no dia 1º de janeiro logo após consumir o alimento.
A investigação da Polícia Civil apontou que o arroz foi preparado na casa da família na noite do dia 31 de dezembro e requentado no dia 1º. A suspeita é de que o alimento tenha sido envenenado horas antes do consumo no almoço dos familiares.
Mortes em sequência
Manoel Leandro da Silva foi a primeira vítima da tragédia. O jovem de 18 anos era tio de Ulisses Gabriel, de 8 anos, e João Miguel, de 7 anos, mortos em agosto do ano passado por ingestão do mesmo pesticida. Manoel morreu logo após ingerir o alimento ainda na residência.
Um dia depois, Igno Davi Silva, de 1 anos e 8 meses, morreu no Hospital Estadual Dirceu Arcoverde, em Parnaíba, onde estava internado. Ele também era sobrinho de Manoel Leandro.
Cinco dias depois, Maria Lauane Fontenele, de 3 anos, morreu após ser transferida ao Hospital de Urgência de Teresina (HUT). A criança morreu por volta das 2h25 do dia 6 de janeiro após falência múltipla dos órgãos.
A quarta vítima da tragédia foi Francisca Maria da Silva. Ela estava internada na UTI do Hospital Dirceu Arcoverde, em Parnaíba, e faleceu por volta das 3h07 da madrugada. Francisca é mãe das quatros crianças mortas por envenenamento no ano passado e neste ano. Ela também era irmã de Manoel Leandro.
Além das mortes, o envenenamento causou a internação de quatro pessoas, entre elas, Francisco de Assis, preso e tratado como principal suspeito do crime. Ele foi liberado 24h após chegar ao hospital.
Uma criança de 11 anos ficou internada no Hospital Nossa Senhora de Fátima, em Parnaíba, entre os dias 1º e teve alta no último final de semana.
Uma mulher de 41 anos foi atendida no HEDA com sintomas de intoxicação alimentar, no dia 1º de janeiro, e liberada após ser medicada.
Uma adolescente de 17 anos foi atendida no HEDA com sintomas de intoxicação alimentar, no dia 1º de janeiro, e liberada após ser medicada.
Ainda permanece internada em estado grave uma criança de 4 anos. Ela está sendo acompanhada na UTI do Hospital de Urgência de Teresina.
Laudo do IML
Segundo o Departamento de Polícia Cientifica do Piauí, os exames feitos no corpo de Manoel, 18 anos, primeira vítima que morreu ainda no dia 1º de janeiro apontaram a presença da mesma substância terbufós no estômago do rapaz. Manoel morreu na casa onde morava com outros membros da família. Ele chegou a ser atendido por uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), mas não resistiu e morreu no local.
A substância pode causar sintomas graves como diarreia, convulsões, tremores, falta de ar, entre outros. Ele age no sistema nervoso de animais e seres humanos e pode causar a morte.
Investigação da Polícia Civil do Piauí
O caso está sendo tratado pela Polícia Civil com homicídio e feminicídio, vez que quatro pessoas já morreram em decorrência da intoxicação.
Depoimentos de familiares e amigos das vítimas, além de vizinhos, foram colhidos. No dia 8 de janeiro, a Polícia Civil realizou uma entrevista coletiva e revelou detalhes da investigação.
O delegado Abimael Silva, da Delegacia de Homicídios de Parnaíba, informou que a motivação dos envenenamentos da família foi feminicídio, crime de ódio. O padrasto Francisco de Assis Pereira da Costa, de 53 anos, foi preso suspeito de envenenar as oito pessoas durante almoço no dia 1º de janeiro.
“Os indícios convergiram para a polícia acreditar que foi seu Francisco que praticou esse crime bárbaro. Há contradições em seu depoimento e ele tinha um sentimento de ódio por Francisca Maria da Silva, mãe das crianças e que também morreu envenenada”, disse o delegado.
Segundo Abimael Silva, Francisco de Assis tinha uma relação tumultuada que a enteada (Francisca Maria, mãe das crianças), e com os moradores da casa. Onze pessoas moravam na casa.
“A única motivação do crime foi raivoso, torpe”, disse o delegado informando que o padrasto tinha “nojo” e “raiva” de Francisca Maria e que ele acreditava que ela era uma “criatura de mente vazia”.
O delegado informou que Francisco de Assis tinha um baú fechado no cadeado com material sobre o nazismo.
Outra prova contra o padrasto foi a confirmação de que ele orientou a requentar o arroz e teve acesso à panela. Na sua versão ele nega. Segundo o delegado, o preso prestou vários depoimentos contraditórios.
Francisco de Assis segue preso desde o dia 8 de janeiro, uma semana após o crime. O caso ainda está em investigação, mas o padrasto pode ser indiciado por dois feminicídios, dois homicídios qualificados e quatro tentativas de homicídios.
Investigação solicita novos exames
Com as investigações ainda em andamento, a polícia cientifica do Piauí vem realizando novos exames. Os corpos dos quatro mortos e das duas crianças que morreram ano passado já foram periciados e em todos foi constatada a presença da substância.
Agora, a perícia realiza exames no cajus e em um gato. O animal e a fruta foram apreendidos no ano passado, após a morte por envenenamento de João Miguel de 7 anos, e Ulisses Gabriel, de 8 anos, em agosto e setembro de 2024.
Caso seja necessário, o celular apreendido nos endereços ligados a Francisco, assim como o baú encontrado em uma das residências pode ser periciado. Todo será avaliado pela polícia.