O ex-presidente do Uruguai José "Pepe" Mujica morreu nesta terça-feira (13), aos 89 anos, depois de quase um ano em tratamento contra um câncer de esôfago. Nesta segunda (12), Lucía Topolansky, esposa de Mujica, disse que o marido estava em estado terminal e sob cuidados paliativos. Em janeiro, Mujica anunciou que o câncer estava se espalhando e disse ao jornal local Búsqueda : "Estou morrendo."
O câncer, que foi diagnosticado em um exame de rotina, teve sua complexidade aumentada devido à vasculite, uma doença autoimune que ele enfrentava havia 20 anos e que afeta os rins, dificultando o tratamento cirúrgico e quimioterápico.
De acordo com o World Cancer Research Fund International, o câncer de esôfago é o oitavo mais comum em todo o mundo, sendo o sétimo câncer mais recorrente entre homens e o 13º, entre mulheres. Já no Brasil, o Inca (Instituto Nacional do Câncer) destaca que o câncer no órgão é a sexta neoplasia masculina mais comum e a 15ª entre mulheres.
Segundo o Instituto, as estimativas de câncer de esôfago no Brasil são de 10.990 casos novos ao ano, sendo 8.200 em homens e 2.790 em mulheres. A mortalidade chega a 76,7%, sendo 80,65% dos homens (ou 6.614 mortes) e 65% (1.816) das mulheres.
Os sintomas incluem disfagia progressiva -dificuldade de engolir-, fadiga, perda de peso e dor na região do tórax. "Se o paciente perceber esses sintomas, é necessário procurar um médico especialista para realizar uma endoscopia", diz Thiago Cordeiro Felismino, oncologista clínico no A.C.Camargo Cancer Center.
Outros sintomas que podem aparecer são anemia, tosse, rouquidão por envolvimento do nervo laríngeo e dispneia. O tratamento envolve participação de múltiplos especialistas e costuma ser conduzido com auxílio de cirurgia, radioterapia e quimioterapia.
"Quando diagnosticado em fase inicial, esse tipo de câncer tem possibilidade de cura", afirma o oncologista. "Já quando progride ou tem recidiva, em casos de metástase, parte-se para os cuidados paliativos." O que era o caso no qual Mujica se encontrava, como declarado por sua esposa.
Esta etapa deve envolver uma equipe multiprofissional e consiste em aliviar os sintomas apresentados, como o controle da dor e um suporte nutricional. Também pode haver a necessidade de auxílio em questões psiquiátricas, como dificuldade para dormir e depressão.
Felismino alerta para os fatores de risco para o desenvolvimento da doença. "O etilismo --consumo exagerado de álcool--, tabagismo, doença do refluxo, sedentarismo, sobrepeso e obesidade.
O câncer de esôfago está muito relacionado com hábitos de vida", afirma, apesar de dizer que desconhece quais eram os de Mujica.
Um fator que está presente nos hábitos culturais no sul do Brasil e também no Uruguai é consumo de bebidas muito quentes -em temperatura de 65ºC ou mais,-como o chimarrão. Outros fatores são o contato com poeira e vapores industriais ou herbicida, histórico de neoplasias anteriores em cabeça, pescoço ou pulmão e infecção por HPV.
Estão vulneráveis também, de acordo com o Inca, as pessoas com comorbidades pré-existentes como "tilose (espessamento da pele nas palmas das mãos e na planta dos pés), acalasia (falta de relaxamento do esfíncter entre o esôfago e o estômago), esôfago de Barrett (crescimento anormal de células do tipo colunar para dentro do esôfago), lesões cáusticas (queimaduras) no esôfago e Síndrome de Plummer-Vinson (deficiência de ferro)".