Foto: Reprodução/FUP
As duas federações de petroleiros do país se reuniram nesta quinta-feira (2) em manifestações contra a proposta de privatização da Petrobras, que tem apoio do presidente Jair Bolsonaro (PL) e ganha corpo no Congresso sob a liderança do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
As manifestações, que ocorreram em diversas instalações da companhia, marcam também o início da campanha de negociações do acordo coletivo da categoria, que pede reposição da inflação e de perdas salariais em acordos anteriores e tenta recuperar benefícios perdidos nos últimos anos.
"O governo Bolsonaro enfrentará a maior greve da história da categoria petroleira, caso insista em levar adiante o projeto de privatização da Petrobras", disse o coordenador-geral da FUP (Federação Única dos Petroleiros), Deyvid Bacelar.
Ele esteve na Câmara dos Deputados em Brasília na quarta (1º), onde discursou contra as propostas de privatização em debate pelo governo e pelo Congresso. No dia anterior, o MME (Ministério de Minas e Energia) havia recomendado a inclusão da Petrobras no PPI (Programa de Parcerias e Investimentos).
O movimento, que já havia sido anunciado pelo novo titular da pasta, Adolfo Sachsida, é o primeiro passo para garantir a privatização, justificada pelo governo como uma saída para resolver a escalada dos preços dos combustíveis no país.
Em outra frente, Lira prometeu levar a votação um projeto para reduzir a fatia do governo na estatal, eliminando a figura do acionista controlador, em operação semelhante à que já foi aprovada para a Eletrobras.
O mercado vê com ceticismo a possibilidade de privatização ainda neste mandato, mas os petroleiros temem o grande apoio que o governo tem no Congresso. Além da FUP, os protestos reuniram sindicatos ligados à FNP (Federação Nacional dos Petroleiros).
"A categoria sabe que se a privatização da Petrobras for apresentada ao Congresso Nacional, todas as pessoas, sejam da ativa, e estou falando das áreas administrativas e operacionais, sejam aposentados e pensionistas, todas serão atingidas, sem falar na sociedade", afirmou Bacelar.
Ele frisou que a categoria já está em estado de greve desde 2021 e, por isso, uma paralisação pode ser iniciada a qualquer momento. Os petroleiros contam com apoio de caminhoneiros e motoristas de táxi e aplicativos, também insatisfeitos com os elevados preços dos combustíveis.
A última grande greve dos petroleiros ocorreu em fevereiro de 2020. A paralisação de 20 dias, que teve impacto na produção da companhia, também teve a privatização como pano de fundo: naquele momento, a empresa negociava a venda de refinarias e fábricas de fertilizantes.
Foi a maior mobilização da categoria desde a greve de 32 dias em 1995. Durante a paralisação, a empresa usou equipes de contingência e contratou temporários para manter as operações em refinarias e plataformas de produção de petróleo.
Bacelar alega que a privatização não resolveria o problema dos preços dos combustíveis, citando como exemplo a única grande refinaria privatizada do país, a Refinaria de Mataripe, na Bahia, que pratica preços mais alinhados às cotações internacionais.
Segundo dados da Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis), por exemplo, a diferença entre o preço interno da gasolina e as cotações internacionais na Bahia é de R$ 0,27 por litro, enquanto a média nacional é de R$ 0,62 por litro.
No caso do diesel, a disparidade é menor: na Bahia, a defasagem é de R$ 0,53 por litro; enquanto a média nacional é de R$ 0,55 por litro.
Além do protesto contra a privatização e pelo reajuste salarial, os petroleiros incluíram na mobilização uma pauta eleitoral. "Há consenso entre as federações que precisamos tirar o governo Bolsonaro", afirma Bacelar.
No protesto desta quinta, havia gente com camisetas e adesivos demonstrando apoio ao candidato petista à presidência, Luiz Inácio Lula da Silva.
Fonte: Folhapress