dia 3 de fevereiro de 2003 ficou marcado na memória dos moradores de Guaribas, no interior do Piauí. Considerada uma das cidades mais pobres do país na época, o município de cerca de 4,5 mil habitantes foi palco do lançamento do Programa Fome Zero. A ação que abarcava uma série de políticas públicas sociais nasceu para erradicar a fome e a miséria no Brasil. Após 20 anos, a população ainda colhe os frutos da iniciativa.
A partir do Fome Zero, a cidade recebeu projetos de infraestrutura, iniciativas de inclusão social, de acesso a água, saneamento básico, pavimentação, dentre outras melhorias. Foi a porta para novas oportunidades que se abriu aos moradores do pequeno município do sul piauiense.
“Guaribas mudou totalmente. O Fome Zero significou Guaribas sem fome. Tinha vários programas. Lembro do programa um milhão de cisternas, que o pessoal ali morria de sede e que salvou muita gente. O Luz Para Todos também veio. Na época não tinha energia onde eu morava, no interior. Foi muita coisa boa que aconteceu”, disse Eldiene Maia, 37 anos, que nasceu e mora em Guaribas.
Primeiro de tudo, veio a água para a gente se libertar dos olhos d’água. Depois, veio o incentivo para as pessoas estudarem e serem alguém na vida. Tudo fazia parte do programa Fome Zero. O programa era muito mais do que o cartão do Bolsa Família”, disse Lídia Alves, 56 anos, moradora de Guaribas.
Em todo o país, o Fome Zero conseguiu atender milhões de pessoas com ações como o Programa Bolsa Família, de transferência de renda para os mais pobres, com condicionalidades de educação e saúde, o Programa Nacional de Alimentação Escolar, que fornece refeições gratuitas para crianças e adolescentes em escolas públicas, além de cursos de qualificação profissional.
“Primeiro de tudo, veio a água para a gente se libertar dos olhos d’água. Depois, veio o incentivo para as pessoas estudarem e serem alguém na vida. Tudo fazia parte do programa Fome Zero. O programa era muito mais do que o cartão do Bolsa Família”, recordou Lídia Alves.
De 2002 a 2013, o Brasil alcançou resultados significativos na redução da desnutrição e na garantia de acesso à alimentação adequada para as camadas mais pobres. No período, caiu em 82% a população considerada em situação de subalimentação.
Aos 28 anos, Guilherme Pereira, foi beneficiado diretamente por toda a transformação que a cidade passou. Atualmente, ele é professor da rede pública municipal e trabalha contribuindo com a formação educacional das novas gerações. “Eu sou fruto daquilo que foi plantado em Guaribas. O Fome Zero foi um programa, em específico, mas acompanhado de diversas outras ações, que de fato fizeram a diferença”, elogiou.
“Para mim, sempre foi um desafio estudar e por toda a minha vida estudei aqui. Terminei o ensino médio em 2011, fui para São Paulo e fiz faculdade por meio da bolsa do ProUni”, contou Guilherme Pereira, que se orgulha de contribuir com o desenvolvimento da cidade.
Transformação
Guaribas, que foi rotulada como a cidade da fome, sofreu uma transformação que ainda é viva na memória de Natália Duarte, 59 anos. Ela lembra do tempo que tinha que buscar água, em baldes, no meio da mata, diretamente nos olhos d’água que ficam no pé da serra ao redor do município. “Ninguém ouvia falar de Guaribas. Era sofrimento demais. As mulheres não dormiam dentro de casa. Eu passava a noite inteira para encher os baldes de água para atender os meus seis filhos”, recorda.
Durante o período de mudança pelo qual a cidade passou, Natália recebeu o Bolsa Família, que
ajudou a garantir dignidade na criação dos filhos. “Toda vez que eu abro o meu guarda-roupas, eu vejo o cartão do Bolsa Família. Só me lembro do passado e me lembro da alegria que estamos hoje”, completou.
Agora, o povo pode continuar sonhando. Porque Guaribas tem tudo para dar certo. Temos que esquecer o rótulo de cidade da fome, de cidade da miséria. Temos que esquecer a terra da pobreza. Agora, somos a terra da prosperidade”, disse Guilherme Pereira, 28 anos, professor.
José Aillon, 59 anos, é um exemplo de empreendedorismo, possível devido às melhores condições de vida em Guaribas. Depois de sair da cidade em busca de emprego, viu a terra natal se desenvolver e retornou para abrir seu próprio negócio. “A gente vivia isolado aqui. Não tinha nada. Tinha vez que a gente comia meio dia, às vezes não comia de noite”, contou.
Proprietário do restaurante no centro da cidade, ele deu início ao comércio após ser estimulado por dois médicos cubanos, profissionais do programa Mais Médicos. “Hoje, graças a Deus tem luz, tem uma estrada boa, tem tudo”, continuou.
Proprietário do Hotel Terraço, Irineu Maia, 42 anos, também optou por buscar oportunidade de trabalho fora. “Antigamente, quando eu saí daqui a gente andava de jumento. Aí, começou o pessoal daqui a comprar moto. Então, eles estavam melhor do que eu, que estava em São Paulo. Foi quando eu comecei a pensar que tinha que voltar para Guaribas”.
Com o desenvolvimento da cidade, ele também fez o caminho de volta. “Eu não tinha ideia de vir para cá não, de tanto sofrimento que sofremos. Para você ter uma ideia, eu mesmo pensava que não ia ver asfalto aqui. Hoje eu estou vendo a casa lotérica, os bancos postais. Eu não esperava ver, no meu tempo de vida, o que já está desenvolvido em Guaribas. Por isso que voltei”, disse.
“Agora, o povo pode continuar sonhando. Porque Guaribas tem tudo para dar certo. Temos que esquecer o rótulo de cidade da fome, de cidade da miséria. Temos que esquecer a terra da pobreza. Agora, somos a terra da prosperidade”, finalizou o professor Guilherme Pereira.