Foto: Ricardo Stuckert/PR
Em encontro bilateral nesta sexta-feira (1º), o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, disse ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que fará eleições em seu país no segundo semestre deste ano. Os líderes se encontraram em São Vicente e Granadinas, às margens da cúpula da Celac (Comunidade dos Estados Latinoamericanos e Caribenhos), para discutir os cenários políticos e econômicos da região.
Maduro garantiu a realização do pleito, ainda sem data definida, a despeito de medidas que o regime tem tomado para enfraquecer adversários. No ano passado, Caracas inabilitou eleitoralmente María Corina Machado, a principal opositora do líder venezuelano --ela havia sido escolhida em votação primária para disputar a eleição e, apesar de considerada inelegível por 15 anos, descarta desistir da candidatura.
Os temores da comunidade internacional com a situação na Venezuela cresceram no fim de janeiro, quando Maduro disse que os acordos com a oposição sobre as eleições presidenciais estavam "mortalmente feridos" após virem à tona denúncias de supostos "planos" para assassinar o ditador.
O acordo eleitoral de Maduro com a oposição levou os Estados Unidos a suspender temporariamente as sanções ao petróleo venezuelano, mas Washington começou a reimpor sanções em janeiro depois que o principal tribunal da Venezuela manteve o veto à candidatura de Maria Corina Machado.
Lula chegou a São Vicente e Granadinas na quinta (29) para participar da cúpula da Celac (Comunidade dos Estados Latinoamericanos e Caribenhos). No país caribenho, o presidente se reuniu com chefes de Estado e chanceleres das 33 nações do grupo e disse que a crise na Faixa de Gaza é uma "carnificina". O líder ainda propôs uma moção pelo fim imediato dos ataques de Israel ao território palestino e pediu que o secretário-geral da ONU, António Guterres, acione o Conselho de Segurança para tomar providências.
Já o ditador venezuelano desembarcou por volta das 8h locais (7h de Brasília) no aeroporto internacional de Argyle, próximo da capital, Kingstown, acompanhado da primeira-dama, Cilia Flores. Nas redes sociais logo após a chegada, Maduro disse que a viagem consolidaria a "verdadeira integração regional".
"A Venezuela faz parte de um mundo novo, mais humano, solidário e unido baseado na cooperação entre os povos latino-americanos e caribenhos, para tornar possível um futuro melhor", escreveu Maduro.
Além de reatar as relações diplomáticas com a Venezuela, Lula defende a reintegração da nação à geopolítica mundial. Em entrevista em junho do ano passado, ao ser questionado sobre a ausência de democracia no território venezuelano, ele relativizou a noção de democracia. "O conceito de democracia é relativo para você e para mim", afirmou.
Antes de São Vicente e Granadinas, Lula esteve em Georgetown, a capital da Guiana, onde se reuniu com o presidente do país, Irfaan Ali. A região do Essequibo, que representa aproximadamente dois terços do território guianense, está marcada por disputa com Caracas.
A crise entre os dois países tem sido revivida pelo regime Maduro ao menos desde que enormes reservas de petróleo foram descobertas na costa da região guianesa, em 2015. No final do ano passado, o ditador aumentou a tensão ao realizar um referendo na Venezuela que aprovou. O líder venezuelano chegou a divulgar um novo mapa da nação com o Essequibo no território de seu país.
O encontro entre Lula e Maduro nesta sexta aconteceu um mês depois que os chanceleres dos dois países se reuniram em Brasília, com mediação do ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores). Na ocasião, o encontro entre os representantes de Georgetown e Caracas durou sete horas. Ao final, o comunicado conjunto divulgado à imprensa dizia que a reunião havia sido um "bom começo", mas não havia declarações diretas sobre Essequibo e nenhum anúncio de medida concreta.
O primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas, Ralph Gonsalves, que atua como interlocutor entre os dois países, garantiu que a situação é "estável", embora ainda permaneçam "diferenças" sobre o território de Essequibo, que a Guiana administra, mas que a Venezuela reivindica.
Fonte: Folhapress