Foto: Ricardo Stuckert / PR
Morreu aos 89 anos Pepe Mujica, ex-guerrilheiro e presidente do Uruguai entre 2010 e 2015, em sua casa, em Rincón del Cerro, zona rural de Montevidéu.
Mujica enfrentava um câncer de esôfago desde 2024. No início deste ano, ele revelou que a doença havia se espalhado pelo corpo, afetando também o fígado, e que, por sua idade avançada e doenças crônicas, havia optado por parar o tratamento. Na ocasião, Pepe, que já vivia recluso, pediu que não o procurassem.
"O que eu peço é que me deixem em paz. Não me peçam mais entrevistas nem nada. Meu ciclo acabou. Sinceramente, estou morrendo. E o guerreiro tem direito ao seu descanso", declarou.
Sua última aparição pública foi durante as eleições presidenciais do Uruguai, em novembro de 2024. Pepe e a esposa, a senadora Lucía Topolansky, participaram ativamente da campanha de Yamandú Orsi, candidato da coalizão de esquerda Frente Ampla, que venceu o direitista Álvaro Delgado, do Partido Nacional.
Militante, guerrilheiro e preso político

Figura emblemática da esquerda latino-americana, José Alberto Mujica Cordano, o Pepe Mujica, nasceu em Montevidéu em 20 de maio de 1935. Filho de pequenos agricultores, começou a militar cedo. Na década de 60 ingressou na guerrilha urbana Movimento de Libertação Nacional, mais conhecida como Tupamaros.
Foi preso político quatro vezes durante a ditadura uruguaia (1973-1985) e passou 14 anos detido até ser beneficiado pela anistia decretada em 1985, com a posse de Julio María Sanguinetti, primeiro presidente do Uruguai pós-redemocratização.
Pepe foi eleito deputado em 1994, senador, em 1999. Em 2005, foi nomeado ministro da Agricultura no governo de Tabaré Vázquez. Quatro anos depois, em outubro de 2009, foi eleito presidente da nação sul-americana.
Presidente mais pobre do mundo

No cargo, promoveu mudanças sociais significativas: a pobreza do país caiu de 37% para 11%; o consumo da maconha foi descriminalizado, e sua venda, regularizada. Fez o país ser um dos primeiros a legalizar o aborto na América Latina, bem como o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo.
Acabou tornando-se uma das lideranças da esquerda mais admiradas da América Latina pelo estilo de vida sóbrio.
Ganhou o apelido de “presidente mais pobre do mundo” ao se recusar a morar no palácio da presidência, dispensar os carros oficiais por um fusca azul que tem até hoje. Durante todo seu mandato, doou 90% do seu salário para a construção de casas populares. Deixou a presidência em 2015 com 65% de aprovação.
Amizade com Lula

Durante a última cúpula do Mercosul, no Uruguai, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou Pepe Mujica. Amigo de longa data do petista, Pepe foi condecorado com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, mais alta condecoração oferecida pelo chefe de Estado brasileiro a cidadãos estrangeiros.
Na ocasião, Lula exaltou a longa trajetória de Mujica em busca de um mundo, e em especial de uma América, mais justa, igualitária e inclusiva.
“De todos os presidentes que eu conheci, que eu tive amizade, e que convivi muitos anos, o Pepe Mujica é a pessoa mais extraordinária que conheci”, disse Lula ao lado do ex-presidente uruguaio.
Mujica agradeceu dizendo: “Obrigado, querido, você também é o melhor que encontrei nesta nossa sofrida América”. Ele foi um dos muitos líderes políticos que visitaram Lula durante sua prisão na sede da Polícia Federal em Curitiba. Na época, o ex-mandatário denunciou a detenção do petista.
“Podem prender seu corpo, mas jamais sua mente e seu coração, eles seguem pelos rincões do Brasil, sobretudo pelos lugares mais pobres”, afirmou.
Durante a campanha presidencial de 2022, Pepe veio ao Brasil para demonstrar apoio à candidatura de Lula. Ele participou do último ato da campanha do petista, uma caminhada na Avenida Paulista que reuniu milhares de pessoas antes do segundo turno da eleição presidencial.