“ENTRELAÇADAS: entre vozes que ecoam” retrata abandono, discriminação e violência estrutural enfrentados por mulheres em Teresina; produção já passou por três importantes mostras de cinema
O documentário piauiense “ENTRELAÇADAS: entre vozes que ecoam” vem conquistando espaço em importantes festivais de cinema do Brasil e exterior. Após circular pela Mostra Território Mandu do Festival de Cinema do Museu do Mar e pelo 19º Encontro Nacional de Cinema e Vídeo dos Sertões, a produção acaba de ser selecionada para a 10ª edição do Festival Internacional de Cinema Socioambiental Planeta.doc, consolidando seu reconhecimento no circuito audiovisual.
O filme expõe a realidade dura de mulheres com hanseníase em Teresina, com relatos pessoais de abandono, discriminação e violência estrutural que persistem mesmo após a cura da doença. Com depoimentos impactantes de Francilene Carvalho, Francisca Angêlica, Iolanda Rodrigues, Maria Elmira, Antonieta Teixeira e Francisca Laiane, o curta-metragem mostra como o preconceito marginaliza as mulheres em suas comunidades, famílias e até no sistema de saúde.
A circulação do documentário por festivais de diferentes regiões e abordagens demonstra a universalidade da temática abordada. A Mostra Território Mandu do Festival de Cinema do Museu do Mar destacou a conexão entre diversas questões sociais, além disso o filme também passará pelo 19º Encontro Nacional de Cinema e Vídeo dos Sertões, que mostrará a representação dessas histórias em Floriano. Agora, o Planeta.doc evidencia essa trajetória com uma seleção internacional que posiciona o filme entre as produções socioambientais mais relevantes da atualidade.
“Quando uma mulher já não é mais capaz de ter utilidade em uma sociedade machista e que vincula a mulher ao ambiente doméstico, isso atinge em todos os sentidos”, explica Francilene Carvalho, uma das entrevistadas. “Para a maioria das pessoas ela perde o seu lugar no mundo, a sua ‘utilidade como mulher’.”
O documentário registra histórias de isolamento social, perda de emprego e violência doméstica causadas pelo estigma associado à hanseníase. Em um dos depoimentos mais marcantes, Iolanda Rodrigues relata: “Quando eu iniciei as minhas primeiras sessões foi um abalo bem forte, pois mexeu na minha vida sentimental. Meu esposo pediu divórcio no momento que eu mais precisei de apoio. Mas com tudo isso eu entendi que a força tinha que vir de dentro”.
O documentário integra o projeto “Construção de mapas de evidências para doenças de determinação social”, promovido pelo Centro de Inteligência em Agravos Tropicais, Emergentes e Negligenciados (CIATEN) em parceria com a Universidade Federal do Piauí (UFPI), com apoio do CNPq e do Ministério da Saúde.
O Planeta.doc vem destacando o compromisso do festival com “produções que articulam criativamente as dimensões sociais e ambientais, dando visibilidade a lutas invisibilizadas”. Assim como o “Encontro Nacional de Cinema e Vídeo dos Sertões enfatizaram” que falam sobre a importância de narrativas que discutam as doenças negligenciadas a partir das vozes das próprias mulheres atingidas.
Com direção de Alisson Carvalho e roteiro de Fábio Solon, o documentário tem realização da UFPI e CIATEN, e produção da Criativa Duo Produções e Geleia Total. O apoio inclui importantes instituições como o Morhan Piauí e o MNDN (Movimento Nacional das Doenças Negligenciadas).